Era 1992, muitas mudanças aconteceram. Em agosto, fui morar com meu namorado, meu eterno namorado Walter Miranda. Estavam novas a vida e a casa. Tudo fervilhava.
No ano anterior, já tinha largado o emprego e durante 6 meses me dediquei a estudar arte. Fiz novos cursos: gravura no Lasar Segall, pintura e gravura na Oficina Cultural Mazzaropi, continuava com modelo vivo na Pinacoteca e comecei em agosto o curso de Papel Artesanal (também aquarela e tapeçaria) no Liceu de Artes e Ofícios. Minha intenção
inicial era conhecer como era feito o papel, já que minha expressão artística
sempre usou o suporte do papel: desenho, aquarela, gravura.
Todos os cursos livres do Centro Cultural do Liceu de Artes Ofícios eram profundos. O curso de papel de artesanal com a professora chilena Stella Rodas era de um ano. No primeiro mês de aula, mostrei os papéis que fizera para minha irmã. Ela adorou e, como se casaria no final daquele ano, me pediu para fazer os convites do seu casamento.
Assim, subitamente virei papeleira e já comecei atrasada. Era agosto e os convites tinham que ser distribuídos até novembro. Seriam 150 convites, tinha que fazer 200 papéis, uns a mais caso algo desse errado. Depois de totalmente secos iriam para impressão em uma gráfica.
Foi absurdamente artesanal, pois não tinha infraestrutura alguma. A planta escolhida foi Costela-de-Adão, que peguei do sítio dos meus pais. Os únicos matérias comprados foram os produtos químicos e os 2 bastidores, que ainda a tela e impermeabilizamos. Walter me ajudou muito nesses afazeres. |
costela de adão
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Para cozinhar a poupa precisava que a panela fosse grande e que não estragasse pelo uso dos produtos químicos. Usei uma lata velha de óleo comestível de 18 litros. Depois bati a poupa num pilão, que compramos correndo no Embu das Artes. O liquidificador é o mesmo que uso até hoje em casa, porém com um copo próprio só para bater as fibras do papel artesanal. Tinha que bater pouquíssima quantidade para não esquentar o liquidificador.
Eu não tinha o tanque de plástico para fazer as folhas, usei o tanque de roupas. Sempre com cuidado para que a poupa não entrasse no encanamento e entupisse tudo. As folhas molhadas eram deixadas descansar em tecidos de algodão que minha mãe fez as pressas as bainhas (eram uns 80 tecidos). A prensa para "enxugar as folhas" eram baldes cheios d'água. Pus para secar no varal de roupas e cuidava para que não entortassem. Tirava do varal diariamente, prensava de novo e voltava para o varal. Como só tinha 80 tecidos, tinha que esperar secar o primeiro lote, para fazer mais 80 papéis. Por ser inverno e os papéis custavam a secar. Cada lote de 80 demorava quase duas semana secando.
Nesse meio tempo, com a ajuda do Walter, conseguimos uma gráfica que trabalhava com tipografia para impressão do convite. O papel artesanal não é preparado para impressoras modernas, que podem "sujar" as lente e os espelhos com microfibras, e muito menos ainda para impressão a quente.
Meu pai também participou do convite do casamento da filhota e propôs fazer alianças de latão para "lacrar" o convite como um pergaminho enrolado. Assim na sua fábrica, Metalúrgica Garra, ele produziu mais de 300 alianças de latão com tubo de 1 polegada e paredes grossas que foram arredondas nas bordas artesanalmente. Cada convite recebeu 2 alianças, para que o convidado já recebesse de lembrança do casamento. Esse par poderia ser usado como argolas para guardanapos de pano depois.
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anéis de latão, lacre do convite
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Os convites ficaram lindos. Combinou com todo casamento que minha irmã sozinha organizou. Ela era uma molequinha de apenas 23 anos. Ela contratou o salão, as flores, as mesas, as cadeiras, o buffet com garçons. (Minha mãe ajudou na compra das bebidas.) Contratou o nosso professor de música da escola para tocar e cantar. Contratou para cartório fazer o casamento civil no local. Convidou família e parentes espalhados pelo Brasil todo. Os locais, o casal entregou pessoalmente o convite como era de costume na época. Uma super festa e assim festivamente comecei a ser papeleira. |
convite de casamento e anéis de lacre |