7 de novembro de 2015

Saudades de chuva.

Saudades de chuva.
Cheiro de chuva.
Barulho de gotas no telhado
Estrondo de raio.
Brilho de trovão.
Catar pedra de gelo e chupar.
Banho de chuva no quintal da Rua Avaí.
Do carro derrapar das estradas de terra/lama do sítio.
Da brincar na lama do meio-fio de frente da casa da tia Vilma. (Daquela 1° casa de Taubaté que, segundo consta, tinha os tijolos assentados com óleo de baleia).
De ficar sem luz na Rua Cel J Brandão e brincar de cineminha por ver as luzes dos faróis refletindo no vidro da janela com grade pantográfica fazendo sombras dançantes na parede longa da sala enorme da casa nova quase sem móveis.
Saudades de ver as sombras no meu braço dos pingos da chuva da janela do fusquinha e se sentir cheia de pintas como meu pai.
Saudades de enfiar o pé na lama e de sentir a textura da lama passando entre os dedos dos pés.
Saudade de fazer guerra de barro com mamona (dupla função: sujar e machucar).
Saudade do cabelo molhado e escorrido da água da chuva.
Saudade da irmãzinha pedir minha mão no meio da noite de tempestade.
Saudade de tirar lama das valetas do tênis e de raspar o excesso no ferro ao pé da porta. E de raspar com graveto o excesso da lama no pé descalço.
Saudade da casa de pau-a-pique com telha de barro que fazia goteira na fazenda do amigo do meu tio.
Saudade de passar a chuva para ir caçar rã (ou gambozino).
Saudade de brincar na chuva com meu irmão e minha irmã.
Meu pai instigando a farra e minha mãe trazendo toalha.
Saudade de água da chuva... seria saudade de vida?
Tantos sofrimento, doença, cansaço, morte, quase-morte, semi-morte, falsa morte, pseudo-vida, medo do medo, acidente, dor, envelhecimento, impotência.
Acho que estou saudade de brincar com neto, com sobrinha e de ver sobrinhos.
Tudo passa e a chuva já passou.